quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um tipo de vida dupla


Ontem saí de uma aula de Fenomenologia que estava focada em dizer como o dasein (ser-ai) é ontologicamente um ser-com-outros. Não existe (nossa, essa palavra é uma complicação filosófica), mas voltando, não existe "existir" se não "for" na relação com os outros...
Bom, isso é só o começo.
Depois começou a reflexão sobre a não existência da individualidade, segundo Heidegger pois tudo que existe em "mim" existe em "outros", quando desmembrado. A única coisa que é única (ou singular) é a combinação dessas coisas comuns. Eu sou igual a outros, numa mistura que dá eu.

Eu sei... eu sei...

Mas daí, hoje acordo, corro, mesmo assim estou atrasada, trânsito, muitos "daseins" (ou seres-aí) no ônibus, no trem, nas calçadas da Paulista e chego atrasada para uma reunião onde a cúpula de todos os departamentos estão reunidas e a discussão da vez são indicadores, índice de confiança do consumidor, vendas, planos de pagamento, inadimplência, como divulgar, promoções, etc,etc, etc e eu me vejo em outro mundo. Nesse mundo não importa suas dúvidas existenciais nem os significados da sua vida, mas sim o que esta crise existencial vai trazer de lucro. Nesse mundo o comportamento é importante, para que eu possa reforçá-lo, puni-lo, condicioná-lo, a lá Pavlov. Nesse mundo o ser-aí é ser-com-outros desde que esses outros comprem de nós e que comprem muito, e em muitas parcelas e com muito juros.

Me sinto vivendo uma vida dupla; a noite desvendando os mistérios da mente humana e o sentido da vida, descobrindo que o homem é uma clareira aberta a todas as possibilidades e... durante o dia, correndo atrás da roda do capitalismo para girar e me manter alimentada (fisiologicamente falando).

A briga é boa...

E eu comprei...

Vamos lá...


BADAENEK

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